Não comprei um barco. E aparentemente tampouco matei o blog. Eu pretendia, e pretendia adotar o twitter como forma de existência virtual, mas ao fim abandono o twitter e volto para cá. Ainda que me agrade a idéia de enunciados de 140 caracteres, terminei por descobrir que muito mais que um serviço de microblogging, o twitter é um espaço de conversas entre amigos que se dão replys, retwits, comentam assuntos de interesse comum e convidam para o bar do fim de semana.
E é hora de aceitar que eu não estou no mesmo meio que meus amigos de twitter (que eram os meus amigos de mundo físico porto-alegrense). Acontece que eu não sei se chove torrencialmente em Porto Alegre, pouco se me dá se Inter e Grêmio ganham ou perdem, não comparecerei tão cedo a nenhuma festa do Beco e em nada me interessa o que o STF decide sobre o valor do meu diploma que já não vale nada mesmo neste país vizinho.
Acessar o twitter estava sendo mais ou menos como acompanhar um estranho reality show em que eu conhecia os personagens mas, no fundo, não entendia bem o enredo. Por mais que eu ainda me intere das notícias brasileiras, já não pego no ar as referências ao desgoverno Yeda. Por mais que eu saiba que a febre amarela se espalha pelo estado, a doença que domina minhas conversas atuais é a gripe porcina que já está na cidade (esta cidade de aqui, não a de lá – e agora percebo que é justo essa inversão de aqui e lá, o meu aqui sendo o lá dos meus amigos gaúchos e vice-versa, que me impede de ver graça no twiter).
A graça de saber que alguém está emburrado no trabalho é justamente poder dizer “ei, eu também, ceva às sete na cidade baixa?”. A graça de saber que alguém molhou as meias em uma poça, está tomando café com chocolate ou jogou uma vassoura contra a televisão quando apareceu o Sant’Anna é justamente a possibilidade de que se tenha passado pela mesma situação.
Por isso, abandono o twitter, que me parece muito mais um espaço de compartilhamento, para voltar ao blog, que tem mais cara de espaço de trocas. A gente não pode ter um diálogo, então eu conto e vocês me contam, cada um a seu turno. Da mesma maneira que me resulta às vezes difícil manter uma conversa de chat, mas sei que os laços com a cidade de lá se mantêm tão fortes quanto antes, firmados por longos e-mail escritos ao largo de numerosas tardes.
Não comprei um barco. Não sei para onde os ventos me levam. Mas sei de onde venho e sei que, não importa o caminho percorrido, a gente é um pouco feito da terra em que nasceu.