fevereiro 13, 2009

Do passado

Em apagar as coisas antigas desse endereço, acabei por me jogar em uma jornada ao passado relendo quase tudo que tinha não apenas aqui, como também no blog da planta, como no extraoficiais que começou em dupla e terminou em um projeto solo do Rodrigo, e também nofaixa três, onde restaram uns poucos textos fictícios.

Já tinha me decidido a resgatar uma outra velharia para colocar aqui, e então encontro um textinho escrito quase três anos atrás que já girava ao redor de plantas. Então a título de eterno retorno e de encerramento desse assunto, reproduzo.

24/4/2006
Ora, vamos, Bárbara, não faça essa cara, você nunca leu Bachelard? O homem é uma planta que pode se transplantar, mas é preciso que sempre se enraíze. A grande burrada dos homens é se enraizar em pessoas, porque pessoas vão embora. Eu, por exemplo, deixei minhas raízes crescerem em você e você foi embora. Não me olha assim, não estou te julgando, é apenas um exemplo. Então você foi embora, coisa que eu nunca entendi porque erámos felizes e, ok, eu paro, senta, Bárbara. Depois que você arrancou minhas raízes, ou levou elas com você, não sei, eu virei uma planta moribunda, como qualquer flor em vaso, como um galho caído, como mofo. Mofo não é planta? Bem, não importa. Vê? Você sempre se prende a detalhes. Acontece que de uma planta solta até se pode fazer um enxerto, enterrar um galho e esperar que ele crie novas raízes. Mas essas plantas sempre crescem de um jeito esquisito, um pouco tortas demais, ou pequenas demais, ou simplesmente disformes. Seria como tentar fazer um homem a partir de um braço, não pode dar certo. Sim, eu sei que Deus fez Eva a partir de uma costela, mas penso que está evidente que eu não sou Deus, Bárbara, querida, porque se eu fosse Deus não estaria aqui tentando falar em metáforas para alguém naturalmente incapaz de compreendê-las. Não, espere, não foi uma ofensa. Desculpe. Fique, Bárbara, eu te faço um café. Você ainda gosta daquelas misturas horríveis para capuccino? Vamos, vamos, eu te faço um café e você rega as violetas de cima da pia. Não, isso não foi uma indireta. Eu sei que eu não parei de falar em plantas, mas foi um pedido inocente. Eu tenho medo de derrubá-las, você sabe. As violetas, derrubar as violetas. Eu, agindo como um louco? Você que está sendo paranóica. Então está bem, vá, se você prefere assim. É uma pena, Bárbara, é mesmo uma pena. Sim, eu abro a porta, apenas me diga, era erva daninha o meu amor? Responda, Bárbara. Só dessa vez.

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