fevereiro 28, 2009

fevereiro 27, 2009

Doses homeopáticas de beleza

Eu amo a minha morada
A Terra triste.
É sofrida e finita
E sobrevive.

Eu amo o Homem-luz
Que há em mim.
É poeira e paixão
E acredita.
Hilda Hilst, em Cantares

fevereiro 26, 2009

Ainda é feio gostar de ver o Oscar?

Já se passaram uns três dias desde o Oscar, mas como ninguém se recuperou ainda do Carnaval, acho que está em tempo de dizer o que eu gostei e não gostei nessa que vinha prometendo ser uma cerimônia inovadora. E foi. E funcionou. E eu ganhei o bolão milionário que fizemos entre quatro pessoas. Mas ninguém me pagou. 



Hugh Jackman virou meu ator preferido. Pelo menos, meu ator preferido quando não está atuando, porque acho que jamais me recuperarei de Austrália. Mas Hugh Jackman cantando e dançando é meu ator preferido. Podia ir cantar e dançar lá em casa.









Atores indicados foram anunciados por cinco atores que venceram em outros anos. Rendeu alguns momentos bonitos, alguns momento engraçados e alguns momentos constrangedores. Qualidades de uma boa cerimônia, eu diria.











Eddie Murhy errou o caminho e ao invés de ir para a entrega dos Framboesas de Ouro acabou no Oscar.












Hugh Jackman em seu musical "preparado em casa" cantou com Anne Hathaway a paraódia para Frost/Nixon. Já disse que Hugh Jackman é meu ator preferido?












Heath Ledger levou o Oscar previsível da noite e sua família fez a platéia inteira chorar.













O completo maluco que caminhou na corda bamba entre as torres gêmeas e inspirou o documetário O Equilibrista fez um truque de mágica e equilibrou o Oscar no queixo. Deveria dar um curso de "como receber a sua estatueta" para todos os indicados.


















Penélope Cruz ganhou e agradeceu ao Almodóvar, que nada tem a ver com o filme pelo qual ela ganhou. Gostei da lealdade à Espanha.


















Sean Penn ganhou e reforçou o discurso do roteirista de Milk dizendo que aqueles que votaram contra a Proposição 8 ainda sentirão vergonha por isso diante de seus netos. Achei uma abordagem interessante pro tema. Se hoje alguém teria vergonha de ter uma avô escravocrata ou nazista, é possível que no futuro ter um avô homofóbico seja igualmente injustificável.














E esse é o roteirista do Milk, que foi a coisa mais querida e provou que todos os homens gays são bonitos.



















Ben Stiller imitou Joaquin Phoenix provando que um hoax é sempre a melhor estratégia para ser o centro das atenções. Se tudo der errado, vou largar o jornalismo e virar rapper.









Sophia Loren fez tantas coisas com o rosto que eu juro que não sei se acho que ela está bonita ou feia.






Ia comentar também a grande presença de estrangeiros. Pelo menos dois japoneses saíram premiados e muitos, muitos indianos estavam por lá, mas não peguei fotos deles porque eram meio parecidos entre si e eu me confundia. Não é algo de que eu me orgulhe, mas não tenho culpa se o olhar ocidental não tem treino para diferenciar os traços orientais. Juro que quando um indiano dizer que eu sou igual à metade do mundo não vou me ofender.

Mas eram muito estrangeiros, como eu dizia, o que pode ser bom ou pode ser só política. Mas, de qualquer modo, Bollywood e Hollywood nunca estiveram tão próximas, o que só pode ser boa coisa.

fevereiro 25, 2009

fevereiro 24, 2009

O blog do Kafka

Esses blogs do além estão na minha lista de coisas que justificam a internet. Nada mais é necessário ser dito sobre o assunto, então deixo que Kafka fale um pouco:
Estou trabalhando num romance e muitas questões me assolam. Vou contar a idéia básica do livro e talvez vocês possam me ajudar. Num certo dia, um sujeito, que é funcionário público, acorda, na sua cama, transformado numa barata. A partir dessa transformação, tenho dois grandes caminhos a seguir. No primeiro, farei dessa história uma metáfora dos efeitos da massificação gerados pela sociedade industrial no indivíduo. Com um clima de angústia e desconcerto, pretendo antecipar o surgimento de fenômenos como o do nazismo, e assim fazer um marco literário de grande valor para a humanidade. O segundo caminho é transformar o personagem principal num protagonista divertido de história infantil: o Q Barato. Q Barato, depois de ter se transformado, partirá da sua aldeia para descobrir, no mundo dos insetos, que todos os seres vivos têm uma importante missão no equilíbrio do planeta. Até mesmo uma baratinha nojenta e rejeitada. Com a criação de mais dois personagens, um pernilongo espoleta e aloprado, mas de bom coração, e uma joaninha princesa linda e rica, que vai se apaixonar pelos verdadeiros valores do Q Barato, a Pixar pode se interessar. No caminho um, o título será A Metamorfose; no dois, A Barata é um Barato.
Também recomendo as impressões de Gutenberg e o sucinto Tim Maia.

fevereiro 23, 2009

Generation gap

Às vezes imagino o que a minha geração vai pedir para os filhos fazerem, à maneira como nossos pais nos pedem para dar um jeito no computador ou ensinar a usar o celular. Que tecnologias vão surgir no futuro que seremos velhos demais para entender ou para se dar o trabalho de se interessar?

Li um artigo de um cara (que perdi) sobre como tudo que for criado depois que tivermos 30 anos de idade vai ser sempre uma ferramenta estranha, mesmo que aprendamos a usá-la, nunca a dominaremos por completo. Não dei muita bola já que ainda me restariam uns sete anos de tranquilidade tecnológica, até o momento em que li isso:
você vai apertar a campainha e usa qual dedo? se for o indicador, você quase certamente tem mais de trinta anos de idade. os mais jovens usam o dedão
Já tinha lido sobre o dedões superdesenvolvidos mas não sabia da estatística dos 30 anos, e aí que me preocupei porque, aos 23, nunca cogitei usar qualquer outro dedo para tocar uma campainha que não o indicador. Isso indica (no pun inded) que, tecnologicamente, já passou a minha época?

Não se trata apenas de dedões. De uns tempos para cá, comecei a me deparar com um comportamento de gerações mais jovens que eu jamais poderia ter imaginado. Há não muito tempo, eu acreditava estar acompanhando as mudanças mesmo que à distância. Por exemplo tirar fotos em frente ao espelho e montar um flickr não é algo da minha geração, mas eu sempre soube que era atividade corrente entre meninas uns anos mais novas. Mas agora me aparece isso de sexting, do qual eu nunca tinha ouvido falar mas deve ser minimamente popular nos EUA para já ter até uma denominação específica.

Fora o espanto de saber que adolescentes estão se mandando fotos explicitamente sexuais e o espanto de saber que estão sendo tratados como criminosos por isso, o ponto é que coisas como sexting e dedões superdesenvolvidos me dão a sólida sensação de que já há no mundo uma geração a qual eu absolutamente não pertenço. É primeira generation gap de que participo no grupo dos mais velhos.

fevereiro 22, 2009

Fotos não contam histórias, histórias sustentam fotos

Quando eu estudava as paisagens sonoras, muito li sobre as restrições do som e como, na nossa cultura, a informação sonora é considerada inferior à informação visual. Se eu gravar os sons da minha cozinha e comparar com uma foto da minha cozinha, terei a impressão de que a foto é mais explicativa, mais completa. Foi para isso que meu cérebro foi treinado. O mundo humano é construído de maneira visual e funciona melhor para quem enxerga.

Mas estou fugindo do ponto. Não vim defender os sons, nem divagar sobre como há diversas maneiras de ver; não vim dizer como os sons podem ser ótimos, vim dizer como a fotografia também é restrita (pra que falar bem quando a gente pode falar mal?).

Na verdade, sou fã de fotografia. Adoro vê-las, adoro batê-las, adoro tudo sobre fotos. Mas acho que temos uma tendência a considerá-las mais informativas do que de fato são. A maioria da fotos precisa de uma legenda para ser mais do que uma imagem bonita/curiosa/impactante, enfim, mais do que uma peça que causa reações emotivas instantâneas.

A imagem da menina que corre nua após os bombardeios de Hiroshima precisa ser contextualizada para exercer todo seu impacto. Explicada, a foto é um registro de uma época, um resumo dos valores, do desespero e das cicatrizes de toda uma geração. Sem legenda, é apenas um retrato de horror.

Pensei nisso quando pensava sobre porque acho esse blog muito melhor que esse. E não tenho dúvidas que é por causa das legendas.

fevereiro 21, 2009

Lugares audíveis

A monografia ao fim do curso de jornalismo mudou a minha vida em duas coisas: me rendeu um diploma (que eu acidentalmente joguei no lixo e tive que pagar fortunas por uma segunda via) e me deixou pra sempre atenta às paisagens sonoras. Hoje, penso em gravações sonoras mais ou menos como penso em fotos de viagens, registros de um lugar que, mesmo sem extrair nada do local reproduzido, são ligações físicas com ele.

É por essa conexão direta entre registro e coisa registrada que gosto de ouvir sons estrangeiros tanto quanto de ver fotos de terras distantes. A experiência é diferente, mas interessante nas suas diferenças. Um som nunca vai dar a noção panorâmica que uma foto pode transmitir, já que montanhas, ou desertos, ou uma fila de monges meditando não emitem um som próprio, dependendo de ventos, animais ou sons da respiração para serem representados. Mas é também por essas restrições que as paisagens sonoras dão espaço para a imaginação.

É difícil escrever sobre ouvir paisagens sonoras (mais ou menos como aquela história de que escrever sobre música é como dançar sobre arquitetura) então apenas indico o caminho para que cada um ouça com seus próprios ouvidos. Soundtransit é um projeto que reúne sons gravados ao redor do mundo e permite que você crie uma viagem sonora pelo itinerário que quiser. Minha última viagem começou no Cairo, passou por Londres e Barcelona e terminou em Trinidad e Tobago. Se algém quiser me acompanhar, o embarque é aqui.

fevereiro 17, 2009

fevereiro 16, 2009

Dose diária de beleza

Frágil — você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal, de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse.Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos, começa a passar.
Caio Fernando Abreu

fevereiro 14, 2009

O subtexto

Já se vão alguns dias e esse blog ainda tem ares de introdução. Mas faz parte do que eu espero criar aqui. Algo que seja devagar, que não tenha muito propósito além do de ser um espaço sem metas e prazos, o equivalente bloguístico a stop and smell the roses. Que ele seja devagar, é, na verdade, um meio de criar um processo atento. Não faz muito, li um artigo que demonstrava o que todos nós provavelmente já sentimos na pele, que o mundo que criamos para nós mesmos - da relação com a internet ao espaço de trabalho - diminui nossa capacidade de concentração ao valorizar a capacidade de realizar mais de uma tarefa ao mesmo tempo.

Podemos administrar umas três funções de trabalho ao mesmo tempo em que resolvemos um problema doméstico e mantemos uma conversa virtual com um ou dois amigos. Mas é difícil achar alguém que diante de um problema, se desligue do resto, se concentre naquilo e não mude de assunto - nem busque um café, nem dê uma olhada no seus feeds - enquanto não chegar ao fim da questão. É um comportamento que serve às necessidades do mundo atual, via de regra, mas que também pode minar a criatividade, o olhar mais profundo e o poder de observação. Em resumo, aqui, busca-se foco.

Foco

fevereiro 13, 2009

Do passado

Em apagar as coisas antigas desse endereço, acabei por me jogar em uma jornada ao passado relendo quase tudo que tinha não apenas aqui, como também no blog da planta, como no extraoficiais que começou em dupla e terminou em um projeto solo do Rodrigo, e também nofaixa três, onde restaram uns poucos textos fictícios.

Já tinha me decidido a resgatar uma outra velharia para colocar aqui, e então encontro um textinho escrito quase três anos atrás que já girava ao redor de plantas. Então a título de eterno retorno e de encerramento desse assunto, reproduzo.

24/4/2006
Ora, vamos, Bárbara, não faça essa cara, você nunca leu Bachelard? O homem é uma planta que pode se transplantar, mas é preciso que sempre se enraíze. A grande burrada dos homens é se enraizar em pessoas, porque pessoas vão embora. Eu, por exemplo, deixei minhas raízes crescerem em você e você foi embora. Não me olha assim, não estou te julgando, é apenas um exemplo. Então você foi embora, coisa que eu nunca entendi porque erámos felizes e, ok, eu paro, senta, Bárbara. Depois que você arrancou minhas raízes, ou levou elas com você, não sei, eu virei uma planta moribunda, como qualquer flor em vaso, como um galho caído, como mofo. Mofo não é planta? Bem, não importa. Vê? Você sempre se prende a detalhes. Acontece que de uma planta solta até se pode fazer um enxerto, enterrar um galho e esperar que ele crie novas raízes. Mas essas plantas sempre crescem de um jeito esquisito, um pouco tortas demais, ou pequenas demais, ou simplesmente disformes. Seria como tentar fazer um homem a partir de um braço, não pode dar certo. Sim, eu sei que Deus fez Eva a partir de uma costela, mas penso que está evidente que eu não sou Deus, Bárbara, querida, porque se eu fosse Deus não estaria aqui tentando falar em metáforas para alguém naturalmente incapaz de compreendê-las. Não, espere, não foi uma ofensa. Desculpe. Fique, Bárbara, eu te faço um café. Você ainda gosta daquelas misturas horríveis para capuccino? Vamos, vamos, eu te faço um café e você rega as violetas de cima da pia. Não, isso não foi uma indireta. Eu sei que eu não parei de falar em plantas, mas foi um pedido inocente. Eu tenho medo de derrubá-las, você sabe. As violetas, derrubar as violetas. Eu, agindo como um louco? Você que está sendo paranóica. Então está bem, vá, se você prefere assim. É uma pena, Bárbara, é mesmo uma pena. Sim, eu abro a porta, apenas me diga, era erva daninha o meu amor? Responda, Bárbara. Só dessa vez.

fevereiro 11, 2009

As plantas

Eu poderia ter continuado com o blog da planta, é verdade, já que é o mais recente e talvez ainda nem tenha se dado conta do abandono. Mas a idéia de falar sobre plantas se mostrou tão infrutífera (com o perdão do trocadilho) quanto qualquer um poderia ter previsto. Mas eu não previ. Ou previ e apostei no improvável. E até que o improvável aconteceu. Todas as plantes que comprei ou ganhei no período estão vivas e passam bem até hoje. Se o blog da planta não mudou a minha vida, certamente mudou a delas, o que já justifica umas dezenas de posts mal cuidados.

fevereiro 10, 2009

A explicação

Aí eu decidi criar mais um blog. Mas como já tive tantos, achei que era justo dessa vez retomar um endereço já usado, pelo menos, para não ocupar mais um espaço na blogosfera que poderia ser usado por alguém mais comprometido com a causa. Então resgatei a senha desse - na verdade, o Google resgatou por mim de uma maneira tão misteriosa quanto preocupante - e aqui estou. Ainda sem uma linha editorial muito clara, mas pensando em alguma unidade de conteúdo.

Início

Amanhã dou mais explicações. Essa foto é só porque me parece que ela comportará qualquer coisa. É como uma página em branco, mas melhor. Há um cavalo, uma árvore e um horizonte verde.