março 13, 2009

É preciso falar para se defender. E é preciso palavras para falar.

Foi um artigo confessional que me deu a verdadeira noção do quanto precisamos de nomes para processar o que nos acontece e para dominar nosso pequeno entorno.

Latoya Peterson escreveu no blog Racialicious um depoimento sobre a epidemia do não-estupro. Ela conta como desde cedo aprendeu, inclusive na escola, a evitar estupros - não andar em ruas escuras, não andar sozinha, etc - mas nunca ninguém lhe falou de todas as formas de não-estupro. Ela cita as histórias de amigas que aos 11 anos foram seduzidas por homens de 20, meninas que sofreram abusos de tios ou padrastos e casos semelhantes. Todas histórias confessadas a amigas da mesma idade e nunca a adultos que tivessem poder para agir contra estes homens. Não porque não houvessem adultos em que elas confiassem, mas porque não havia o COMO contar.
Minhas amigas e eu confidenciávamos umas as outras, trocávamos histórias, compartilhávamos a dor, enquanto mantinhamos tudo escondido dos adultos nas nossas vidas. Afinal, a quem poderíamos contar? Isso não era estupro - não se encaixava na definição. Nós é que devíamos ter pensado melhor. Seríamos nós que levaríamos a culpa.
A importância das palavras se faz mais presente no que aconteceu com ela própria. Aos 14 anos, Latoya estava sozinha em casa quando um amigo de um amigo bateu à porta. Depois de meia dúzia de palavras, ele jogou a menina no chão e, segurando os braços delas com uma mão, correu a outra por todo o corpo dela por debaixo das roupas. Latoya nunca contou a ninguém porque acreditava que "não havia o que contar".
Aos 14 anos, eu não tinha as palavras para falar da minha experiência e torná-la real. Sem essas palavras, eu me vi silenciosa e impotente, aterrada pelo conhecimento do que não acontecera, mas incapaz de me libertar falando do que de fato acontecera.
O objetivo do artigo de Latoya é defender que se ensine a meninas não apenas o que é estupro e como evitá-lo, mas também todas as outras forma de violência contra a mulher e o que fazer caso tenha sido impossível evitá-las.
Não-estupro acontece de várias formas - normalmente conhecido por outros nomes. O que aconteceu comigo foi agressão sexual. Não é a mesma coisa que estupro, mas é maléfico e doloroso. Minhas amigas passaram por estupro presumido, molestamento e coerção.
Latoya acredita que se essas garotas soubessem disso aos 14 anos, teriam tido condições de falar sobre o que acontecera. Mas em não saber como nomear o ataque, ficaram impossibilitadas de lidar com ele.

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