março 05, 2009

O assassino bom

Outra coisa interessante sobre a moral são as exceções a regras que, à primeira vista, parecem universais e absolutas. Praticamente todas as sociedades humanas não aceitam o assassinato. Faz parte da nossa programação biológica que trabalha em prol da sobrevivência da espécie e faz parte do que aprendemos quando nos ensinam o que é certo e o que é errado.

Ainda assim, há, não apenas uma, mas diversas situações em que essa regra de convivência tão básica pode ser quebrada de forma socialmente aceitável. Se matamos alguém em legítima defesa, estamos isentos de qualquer consequência legal e ninguém nos acusará de assassino ou criminoso.

Apesar de estar em extinção, a pena de morte ainda é praticada em diversos lugares do mundo e é uma forma socialmente aceitável de assassinato. Há uma enorme quantidade de pessoas que a condenam, mas, mesmo assim, aos olhos da lei, matar alguém que matou outra pessoa - nada mais que uma oficialização da vingança - é um ato válido.

Com isso, o ato puro de matar uma pessoa não parece mais conter um valor em si. O assassinato pode, inclusive, mais que ser socialmente aceito, ser louvado. Policiais são treinados para matar, caso uma ação extrema assim seja necessária. Se em uma situação de sequestro, esgotadas todas as possibilidades de negociações pacíficas, cabe a um policial atirar no sequestrador para libertar os seus reféns, e ele o faz com sucesso, é possível que a ação ganhe até ares de heroísmo.

De uma forma um pouco mais "enfeitada", é no elogio ao assassinato que se baseiam as forças militares. Um bom soldado nada mais é que alguém que consegue matar muitos soldados do lado rival. Mas mesmo os mais pacifistas têm dificuldade em apontar o dedo para um soldado. Um dos hinos dos jovens dos anos 60 que protestavam contra a Guerra do Vietnã era "nós não somos contra os soldados, somos contra a guerra". Mas, na prática, quem fazia a guerra diária era, sim, a massa de soldados anônimos que tiravam a vida de outros soldados anônimos. Entretanto, por eles estarem sob o comando de militares do alto escalão e a serviço do governo, suas ações não são mais sequer julgadas como suas. Os manifestantes eram contra a decisão de matar, mas não eram contra os homens que estavam puxando o gatilho.

Mas desvio do assunto. Deixo essa coisa de estar sob as ordens de outrem para amanhã.

Um comentário:

Karine disse...

já venho visitando, mas ainda não havia comentado.
gostei muito da tua nova casa ;)